"Passaram anos em que não vi Antero, instalado então em Vila do Conde. Sabia que o meu amigo estava quase são, quase sereno. Mas foi uma preciosa surpresa quando, ao fim dessa separação, chegando ao Porto e correndo com Oliveira Martins a Vila do Conde, avistei na estação um Antero gordo, róseo, reflorido, com as lapelas do casaco de alpaca atiradas para trás galhardamente e meneando na mão a grossa bengala da Índia que em Lisboa eu lhe dera para amparar a tristeza e a fadiga. Era uma regressão, quase o antigo Antero coimbrão, mais amadurecido, mais doce. Era sobretudo uma ressureição moral, à velha maneira de Lázaro, uma miraculosa saída do túmulo pessimista e das sombras da negação. Findara a luta implacável: o seu grande coração, enfim, descansava em paz!"
A República. n-1 de 18-12-1910.
A "Propaganda" da Póvoa de Varzim , lança , segundo nos informam , a ideia de fazer derivar a água do nosso rio para aquella villa , aproveitando-as para certas necessidades da hygiene publica....
Em 25-12-1910.
A "Propaganda " da Póvoa de Varzim , não abandonou a ideia de nos levar para lá a agua do Ave , para nada contando com a nossa natural e legítima resistência a tão audaciosa como extravagante tentativa de esbrilho se um dia alguem se lembrasse de tornar em facto o devaneio poetico do Sr. Candido Landolt.
Com mais respeito pelas nossas susceptibilidades e pelos nossos direitos , já o POVEIRO , nosso colega d´aquella villa , lhe assignalou os inconvenientes de tal disparate ; mas a "Propaganda" prossegue intrepidamente na sua defeza na convicção , que decerto o desvanece , de estar a propugnar uma ideia genial.
Pois que viva o bravo e fecundo jornalista n´essa convicção grata , e não falte na Povoa alguem a propor-lhe a coroa civica com que os antigos gregos premiavam os seus servidores illustres.
"Vae ficando deserta ! Os primeiros frios do Outonno pozeram em debandada muitas famílias de banhistas . Já se nota uma grande differença no movimento da rua Bento de Freitas , que começa de novo a ficar silenciosa e triste . Até ao anno ! -- é ocasião de dizermos a todas essas famílias que nos honraram com a sua permanencia nos mezes quentes do estio . Oxalá que d´aqui levem as melhores recordações e as mais gratas lembranças . As que deixam são as mais saudosas e agradaveis . Em cada dia que passa despovôa-se uma caza , e desaparece um d´esses bandos alegres e loiros de creança , que enchiam aquella pittoresca vastidão com os seus alegres sorrisos e inquietos brinquedos.
Nós cá ficamos na algida melancolia do inverno , com as suas noites frias e eternas , á espera d´esses mezes alegres e temperados que nos trazem as flôres e os banhistas . Que voltem rapidos e felizes é o que todos desejamos."
Romance de Vila do Conde
“Vila do Conde espraiada
Entre pinhais rio e mar…
Lembra-me Vila do Conde
Já me ponho a suspirar.
Vento norte, ai vento norte,
Ventinho da beira-mar
Vento de Vila do Conde,
Que é a minha terra natal!
Nenhum remédio me vale
Se me não vens cá buscar
Vento norte, ai vento norte,
Que em sonhos sinto a soprar.
[…]
Vila do Conde espraiada
Entre pinhais rio e mar…
Lembra-me Vila do Conde
Já me ponho a suspirar.
Bom cheirinho dos pinheiros,
Sei de um que quase te vale!
É o cheiro da maresia,
- Sargaços, névoas e sal -
A que cheira toda a Vila
Nas manhãs de temporal!
Ai mar de Vila do Conde,
Ai mar dos mares, meu mar!
Se me não vens cá buscar,
Nenhum remédio me vale,
Nenhum remédio me vale,
Nem chega a remediar.
Abria de manhãzinha,
As vidraças de par em par.
Entrava o mar no meu quarto
Só pelo cheiro do ar.
Ia à praia e via a espuma
Rolando pelo areal,
Espuma verde e amarela
Da noite de temporal!
Empurrado pelo vento,
Que em sonhos ouço ventar.
Ia à praia e via a espuma
Pelo areal a rolar.
[…]
Vila do Conde espraiada
Entre pinhais rio e mar…
Lembra-me Vila do Conde
Já me ponho a suspirar.
[…]
Lembranças da minha terra
Da minha terra natal
Nenhum remédio me vale
Se me não vindes buscar
Nenhum me poder
Morto em pecado mortal!”
José Régio
Disse Camilo Castelo Branco:
Numa carta a Castilho:
“A minha saúde é péssima. Estou em Vila do Conde, ainda a fazer não sei o quê. Passo os dias na cama a mastigar as batatas cozidas de Francisco Manuel do Nascimento ajeitadas no pudim das odes horacianas. Li, há dias, o Camões pela quarta vez. Aquilo faz-me lembrar o bom ouro dos dobrões de D. João V.”
Numa carta dirigida a Oliveira Martins, depois de lhe ter dito que vivia em Vila do Conde, acrescenta:
“Eu já lá estive três meses e cheguei a ter abcessos e furúnculos de tédio.”
Disse Antero de Quental:
“…voltando amanhã para Vila do Conde, onde já me acho instalado há quinze dias, estando por ora inteiramente satisfeito com a escolha que fiz daquela terrinha que é barata, alegre e onde tenho encontrado um sossego que almejava, para poder dormir regularmente.”
Numa carta a Sebastião Arruda Botelho.
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